Textos
Conto Minimalista n.32
SONHO VIRTUAL
Não viam a hora de a noitinha cair. O e-mail estaria lá? Nossa, como sentiam falta um do outro, das palavras que ficavam cada vez mais doces, num crescendo de ternuras. Havia tanto a partilhar e também compreensão, risos, consolo - era quase uma presença palpável.
Passaram 6 meses neste semi-romance e, na segunda metade de 1996, quando o calor entre eles começou a ultrapassar os limites de simples amizade, marcaram o primeiro encontro.
Ela chegou toda produzida e bem resolvida para aquele momento tão sonhado, mas ele estava visivelmente inibido. Tímido, ofereceu uma bebida e não sabendo como dominar o nervosismo, fumou dois cigarros seguidos.
Tentaram ficar mais à vontade e depois de uns risos meio forçados, alguns silêncios desagregantes, engataram um beijo um pouco mais parecido com o das novelas. Parecido... Ela desejou mais, e demais que o clima ficasse mais intenso e que ele agisse como um galã e não com aquela timidez desesperante. Sentindo-lhe a expectativa, ele atrapalhou-se ainda mais e desejou que tivessem um tempinho de adaptação. Acabou derrubando o líquido do copo ao tossir na hora errada, mas o pior foi o ziper dela engripar até rasgar o jeans.
...
Descobriram que algo falhara, que ficara a dever, faltando a naturalidade e a graça que, juntos, antes eles tinham. Fora tudo muito aquém do esperado. Onde estava todo o calor das palavras que lhes nasciam com tanta espontaneidade - intensas - descendo em palavras e versos apaixonados? Ali constataram que a vida real era bem diferente de novelas e de cinema. E dos fáceis delírios virtuais.
Após os momentos em anticlimax, por mais que tentassem disfarçar sorrindo para o outro, somente uma certeza lhes ficava agora, a título de nova experiência: estariam ainda mais sós a partir do encontro real.
E, para sempre, um do outro perdidos. Este sonho acabara...
SIlvia Regina Costa Lima
julho de 2009
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SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado por SILVIA REGINA COSTA LIMA em 14/07/2009
Alterado em 10/05/2011
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