Soneto (n.22)
De novembro, chegam as águas sem ternura.
Chegam-me turvas, escoam pelo meu desvão,
descem feito cachoeiras... rodam pelo chão -
e arrastam-me com elas em inútil semeadura.
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Não é só chuva, é água em errada vertedura
que enfrenta a noite... chama minha solidão.
É um traço riscado na linha do meu coração,
maltratando a minha alma em sua urdidura.
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Ela apresenta o gosto de dores malsinadas,
que chegam trazidas por Mistral - o vento -
em dias de tristeza e doloridas despedidas.
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No grito insano das mais altas madrugadas,
o espanto fica preso e é o meu vil tormento
selando, com lacre, o desgosto das partidas!
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Ofereço a meus amados que "partiram"
em novembros de triste memória:
+Minha tia Lydia - 2 de novembro de 1980
+Meu pai Manoel - 27 de novembro de 1984
+ Meu marido Luiz - 28 de novembro de 1998
+ Minha amiga Rosa A. - 22 de novembro de 2008
e outras despedidas, afastamentos por motivos fúteis, tolos,
banais de amigos e parentes. Assim, eu detesto novembro.