SILVIA REGINA LIMA
Escrevo e me transporto para dentro daquilo que escrevi.
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Textos


"O SONHO RECORRENTE"
(conto n.5)



De modo impessoal, ele tentou dizer-lhes o quanto aquilo o incomodava. Não obtendo acolhida, pensou no que faria a seguir. Não que isso fosse fácil, não que isso fosse o recomendado. Nem sempre pensar muito era o melhor a fazer...

Entanto, lembrou-se de todos os sonhos que alimentara quando ainda sentado no banco da faculdade e que permaneceram nos primeiros anos, antes da sucessão de pequenas renúncias - em nome da necessidade. A família que formara precisara de seu provedor e ele se adaptara.

A crise maior chegara com a meia idade, agora atingindo uma espécie de saturação dolorosa, e ela aliara-se às mudanças impostas na empresa. Ele fora avisado que teria um chefe, um jovem executivo, a quem prestaria contas. Ponderou que o jovem poderia ter atributos, estar mais atualizado que ele, mas sentia-se humilhado e sua promoção seria, por ora, inviável. A falta dessa perspectiva era muito dura e ficou desesperançado.

Enquanto juntava seus pertences, pensava no que desejava. Ter um barzinho à beira mar, pés na areia, coqueiros, mesas ao luar, violão, amigos.... O azul. Um tipo de liberdade. A deliciosa visão era tão real que parecia filme em sua mente, algo bem ao alcance de suas mãos. Percebeu, então, que aquilo o acompanhara pela vida, aquele desejo forte que nunca o deixara ser completamente feliz. Seu sonho recorrente.

Sorrindo pela primeira vez em semanas, fechou a porta atrás de si, encerrando, de vez, essa longa etapa de sua vida.
O sol, que atravessava a janela do corredor, pareceu entender tudo o que sentia - e sua decisão.

Respirou fundo. Ergueu a cabeça resolutamente,
desta vez, ao entrar  em sua nova saleta.

Silvia Regina Costa Lima
18 de agosto de 2008
SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado por SILVIA REGINA COSTA LIMA em 28/08/2008
Alterado em 02/06/2009
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